terça-feira, 15 de maio de 2012

Família


A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada
como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis
ou desagradáveis que o pretérito nos devolve.
Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução
que, trazidos ao ambiente comum, superam-no, de imediato,
criando o clima mental que lhes é peculiar, atendendo à renovação
de que se fazem intérpretes.
Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.
Cada criatura está provisoriamente ajustada ao raio de ação
que é capaz de desenvolver ou, mais claramente, cada um de nós
apenas, pouco a pouco, ultrapassará o horizonte a que já estenda
os reflexos que lhe digam respeito.
O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria
taba, mas aí renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente
civilizado demora-se longo tempo no plano racial em que assimila
as experiências de que carece, até  que a soma de suas aquisições o
recomende a diferentes realizações.
É assim que na esfera do grupo consangüíneo o Espírito reencarnado segue ao encontro dos laços que entreteceu para si pró-
prio, na linha mental em que se lhe caracterizam as tendências.
A  chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum
modo, a natural aglutinação dos espíritos que se afinam nas mesmas atividades e inclinações.
Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em
esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a manifestação do gênio pacientemente elaborado no bojo dos milênios,impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco trabalho criativo.
Todavia, na senda habitual, o templo doméstico reúne aqueles
que se retratam uns nos outros.
Uma família de músicos terá mais facilidade para recolher
companheiros da arte divina em sua descendência, porque, muita
vez, os Espíritos que assumem a posição de filhos na reencarna-
ção, junto deles, são os mesmos amigos que lhes incentivavam a
formação musical,  desde o reino do Espírito, refletindo-se reciprocamente na continuidade da ação em que se empenham através
de séculos numerosos.
É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos,
comerciantes e agricultores quase sempre se dão as mãos, no culto
dos melhores valores afetivos, continuando-se, mutuamente, nos
genes familiares, preservando para si mesmos, mediante o trabalho em comum e segundo a lei do renascimento, o patrimônio
evolutivo em que se exprimem no espaço e no tempo. Também é
assim, de conformidade com o mesmo princípio de sintonia, que
vemos dipsômanos e cleptomaníacos, tanto quanto delinqüentes e
enfermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam
espiritualmente as deficiências e as provas, porquanto muitas
inteligências transviadas se ajustam ao campo genético daqueles
que lhes atraem a companhia, por força dos sentimentos menos
dignos ou das ações deploráveis com que se oneram perante a Lei.
A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da conjunção
de débitos, situando-nos no plano genético enfermiço que merecemos, à face dos nossos compromissos com o mundo e com a
vida. Dessa forma, somos impelidos a padecer o retorno dos
nossos reflexos tóxicos através de pessoas de nossa parentela, que
no-los devolvem por aflitivos processos de sofrimento.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e  alegria que já conseguimos tecer, por intermédio do amor louva-velmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e
aversão, nas quais recolhemos, de volta, os  clichês inquietantes
que nós mesmos plasmamos na memória do destino e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e  humildade, recursos novos com que faremos nova produção de
reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa
conduta anterior, conturbada e infeliz.

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