João, 21:15-17
Após a refeição que oferecera aos discípulos, Jesus conversou com Simão Pedro.
Em dado momento, perguntou-lhe:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
– Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
– Apascenta as minhas ovelhas.
Após breve pausa, reiterou:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
– Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
– Apascenta as minhas ovelhas!
Novo silêncio, nova expectativa, e a mesma indagação:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
O apóstolo entristeceu-se com aquela insistência, que parecia transpirar um sentimento de dúvida quanto à sua fidelidade.
– Senhor, conheces todas as coisas e sabes que te amo!
– Apascenta as minhas ovelhas.
***
Não apenas Simão Pedro, mas outros discípulos presentes terão
estranhado que o Mestre houvesse indagado três vezes quanto à
autenticidade de seu afeto.
Obviamente, Jesus tinha plena consciência do carinho que os companheiros lhe devotavam.
Mas sabia, também, que na gloriosa jornada de divulgação do Evangelho
haveriam de enfrentar problemas e dificuldades, lutas e perseguições.
Para que obtivessem sucesso, fundamental o amor pela causa. Somente assim teriam o ânimo necessário para perseverar.
Ao insistir com Simão Pedro, Jesus passava essa mensagem à comunidade cristã.
O amor por ele deveria derramar-se no trabalho que lhes competia.
Apascentar as ovelhas seria transmitir suas lições pelo exemplo de
amorosa dedicação ao Bem.
***
No que fazemos de melhor, em qualquer setor de atividade, há sempre um componente básico: o amor.
A melhor dona de casa, o melhor chefe de família, o melhor funcionário, o
melhor empresário, o melhor atleta, será sempre aquele que se dedica às
suas funções, não por obrigação, dever ou interesse, mas, simplesmente,
por amar o que faz.
Nos serviços de voluntariado, cursos e reuniões mediúnicas, no Centro
Espírita, distinguem-se claramente os que participam com o objetivo de
receber benefícios daqueles que o fazem por amor.
Os primeiros são inconstantes. Pouco assíduos, afastam-se à primeira
dificuldade ou divergência, ao primeiro problema particular. Não se pode
contar com eles.
Os segundos empenham-se, têm imaginação, desenvolvem as tarefas,
aprimoram os serviços, doam-se em boa vontade, dedicação, carinho pelo
serviço.
No CEAC, em Bauru, há múltiplos departamentos, envolvendo evangelização,
mocidade, creche, biblioteca, livraria, clube do livro espírita,
albergue, centro de triagem de migrantes, casa de passagem, núcleos de
periferia, orientação às gestantes, assistência hospitalar, assistência
às prisões…
Embora sejam serviços diversificados, têm um ponto em comum: cada um
deles foi montado e é sustentado por idealistas, que amam o que fazem!
***
Há uma história interessante a esse respeito, envolvendo excelente mãe de família.
Cozinheira de mão cheia, fazia quitutes de dar água na boca. Seus bolos eram uma tentação, verdadeiro manjar dos deuses.
Seu segredo: uma caixa metálica. Havia ali um ingrediente mágico que sua
mãe lhe dera. Dava sabor especial a qualquer alimento que preparasse.
Não deixava ninguém pegar na caixa. Seu conteúdo, dizia, era extremamente volátil, poderia perder-se e não havia como repor.
Submetendo-se a uma cirurgia, esteve alguns dias hospitalizada. O marido
ficou perdido. A esposa era a luz que iluminava sua existência, isso
sem falar nos manjares dos deuses que preparava.
À noite, sozinho em casa, imaginou o que comer.
Abriu a geladeira e pegou um pedaço de bolo feito pela cara-metade. A delícia de sempre!
Enquanto comia, abriu um armário e viu a misteriosa caixa.
Baixou nele o espírito feminino – a curiosidade.
Se você, leitora amiga, não gostou desse “espírito feminino”, lembre-se
de que segundo a fantasia bíblica, perdemos o paraíso por causa da
curiosidade de Eva.
Bem, essa é outra história.
Com infinito cuidado, abriu a caixa. Para sua surpresa, estava praticamente vazia. Tinha apenas um pedaço de papel dobrado.
Abriu. Era um bilhete singelo de sua sogra.
Minha filha, em tudo o que fizer, acrescente uma pitada de amor.
Era esse o seu segredo.
Fazer com amor!
Nem deveria ser segredo.
É algo que todos precisam saber.
Se quisermos fazer bem, façamos com amor.
Era isso que Jesus esperava dos discípulos.
Esse amor ao trabalho, amor ao que fazemos, amor ao ideal, é algo
espontâneo, entranhado em nós, mas nasce, também, a partir de elementar
iniciativa:
Aprender a gostar do que fazemos, ainda que convocados a fazer algo de que não gostamos.
***
Em O Evangelho segundo o Espiritismo Allan Kardec evidencia que a
Doutrina Espírita é Jesus de retorno, na excelência de seus
ensinamentos.
É o Consolador prometido, o Espírito de Verdade que nos traz lições e
esclarecimentos que não tínhamos condições para receber há dois mil
anos.
E se o Espiritismo é bom para nós, oferecendo-nos ampla visão dos
porquês da Vida, há de ser bom, também, para aqueles que nos rodeiam.
Importante, portanto, que nos disponhamos à sua divulgação.
E como fazê-lo com eficiência?
O caminho é o mesmo preconizado por Jesus.
É preciso que tenhamos amor pelo Espiritismo, que nos envolvamos com seus princípios, procurando vivenciá-los.
A base sobre a qual devem ser erigidas as edificações mais nobres da Doutrina, hoje e sempre, é o nosso comportamento.
Não há outra maneira de demonstrarmos a excelência dos princípios espíritas senão incorporando-os à própria existência.
Que sejamos tão cordatos, honestos, respeitosos, diligentes, íntegros, que as pessoas olhem para nós e digam:
– O Espiritismo deve ser algo sublime, para forjar um caráter tão nobre, uma tal pureza de sentimentos!
***
Obviamente, a vivência da doutrina implica, também, no empenho de apascentar as ovelhas, como ensina Jesus.
Apascentar, no sentido evangélico, seria cuidar.
Quem são as ovelhas?
A tradição religiosa pretende sejam os que aceitam Jesus e passam a
fazer parte de seu rebanho. Diversas seitas cristãs consideram ovelhas
apenas os irmãos de fé.
Já ouvimos de pregadores evangélicos a inacreditável afirmação de que são filhos de Deus os que foram batizados em suas crenças.
Os de fora são apenas criaturas.
Considerando que somente trinta por cento dos habitantes da Terra são
cristãos, chegamos à espantosa idéia de que setenta por cento estão à
margem da paternidade divina e de suas graças.
E como, segundo essas doutrinas, Jesus é o caminho para o Céu, dois
terços da Humanidade jamais terão acesso, porque sequer o conhecem.
Isso é discriminação, algo inconcebível no cristão.
***
A Doutrina Espírita nos oferece uma visão mais racional e lógica.
Todos somos filhos de Deus, seja qual for a nossa raça, nacionalidade ou
crença.
E Jesus não é o pastor de algumas ovelhas.
É o pastor de todas as ovelhas.
É o governador de nosso planeta, que assumiu perante Deus o compromisso
de nos conduzir pelas sendas do progresso, rumo à perfeição.
Então, o católico, o evangélico, o espírita, tanto quanto o budista, o
muçulmano, o judeu, o hinduísta, o xintoísta, ou o próprio materialista,
somos todos filhos de Deus, orientados pelo Cristo.
Mesmo os que não o conhecem ou não o aceitam como guia, pertencem ao seu
rebanho, da mesma forma que alguém que desconhece ou renega o pai não
deixa de ser seu filho.
Seja qual for a nossa nacionalidade, raça ou crença, permanecemos todos
sob a égide de Jesus, conduzidos por suas mãos compassivas. Ainda que
demande o concurso dos milênios, terminaremos em seus caminhos.
O que o Mestre espera de nós, que já o conhecemos, é que estejamos dispostos a colaborar em sua Seara.
Quando chegar a nossa hora, quando retornarmos à vida espiritual, a avaliação básica, como cristãos, será: Quantas ovelhas apascentamos, quanto amor demos ao semelhante, no esforço do Bem?
Antes que o Galo cante/Richard Simonetti
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