Os Espíritos evoluem sempre.
Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem.
A rapidez do seu progresso, intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição.
Quando usamos a expressão perfeccionista, dependendo da entonação e
circunstância, podemos estar exprimindo ácida crítica ou eloqüente
elogio.
O homem diz:
– Minha mulher é uma perfeccionista. Incapaz de dormir se no quarto há
uma gaveta ligeiramente aberta. As crianças e as domésticas vêem-se em
papos-de-aranha com ela.
Está sugerindo que se trata de uma neurótica de carteirinha que perturba todos na casa com sua mania de limpeza e de ordem.
A secretária diz:
– Meu chefe é um perfeccionista. Nunca está satisfeito com meu trabalho.
Obriga-me a alterar mil vezes o texto de uma correspondência, até
deixar-me estressada.
Está anunciando que se subordina a um maníaco obcecado que quer levá-la à loucura.
Mas podemos também exprimir admiração por alguém, reconhecendo que procura dar o melhor de si.
– Aquele músico é um perfeccionista. Compõe poucas músicas, mas de harmonia irretocável.
– Aquele marceneiro é um perfeccionista. Enquanto outros fabricam vários
móveis ele produz um apenas, mas será uma peça de arte, acabamento
primoroso.
***
Bem, nem todos somos perfeccionistas, no bom ou mau sentido, mas, sem
nenhuma exceção, somos todos perfectíveis, isto é, passíveis de
aprimoramento contínuo.
Seres imortais, evoluímos incessantemente ao longo dos milênios.
Fomos:
• O princípio espiritual que animou vegetais…
• A consciência embrionária que agitou irracionais…
• O selvagem que disputava espaço com feras famintas…
• O homem medieval às voltas com guerras e disputas…
Somos o homem moderno, perplexo com as conquistas deste século, a
enfrentar complexos desafios relacionados com o desenvolvimento
tecnológico.
Assim iremos, de degrau em degrau, desenvolvendo potencialidades,
aprimorando-nos moral e intelectualmente, crescendo em espiritualidade,
rumo a glorioso porvir, transformando-nos em prepostos de Deus,
partícipes da Criação.
Jesus é o guia maior.
Está aonde chegaremos um dia.
Esteve onde estagiamos hoje.
***
Aprendemos com a Doutrina Espírita que todo patrimônio intelectual,
moral e espiritual que adquirimos é inalienável. Não o perderemos
jamais. Será sempre o nosso passaporte para um futuro melhor.
Ninguém retrograda.
Mas, infelizmente, muitos se distraem, estacionam, atrasam-se…
Isso acontece quando as pessoas perdem o entusiasmo, quando deixam de
olhar para dentro de si mesmas, quando desistem de aprender, de lutar
contra suas imperfeições, quando se acomodam aos vícios e paixões.
Então marcam passo, vivendo na Terra como sonâmbulos.
Falam, ouvem, movimentam-se, mas têm a consciência adormecida.
Raros despertam por sua própria iniciativa.
Muitos só o fazem com o concurso da Dor.
E há os que insistem em permanecer adormecidos.
Competirá à morte, a grande ceifeira, a tarefa de renovar-lhes as disposições, despertando-os do sono voluntário.
Para não experimentarmos o constrangimento de constatar, quando chegar
nossa hora, que fomos dorminhocos na Terra, seria interessante
avaliássemos, diariamente, como anda nosso aprendizado.
Intelectualmente, quantos livros temos lido, que estudos temos feito, que experiências temos desenvolvido?
Moralmente, estamos melhores hoje do que ontem? Estamos contendo nossos impulsos inferiores? Cultivamos valores espirituais?
***
O Espiritismo deixa bem claro que não podemos perder tempo. É preciso
caminhar, buscar novos horizontes, desenvolver potencialidades, ampliar
conhecimentos, aprimorar sentimentos.
É importante, em nosso próprio benefício, que busquemos priorizar o
desenvolvimento moral, procurando saber o que Deus espera de nós.
Como fazê-lo?
É simples:
A vontade de Deus está definida com perfeição, no Sermão da Montanha (Mateus, capítulo V):
Tendes ouvido o que foi ensinado aos antigos:
– Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo:
Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei os que
vos amaldiçoam; orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de
serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, Ele que faz nascer seu Sol
sobre bons e maus e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
Porque, se só amardes os que vos amam, que recompensa tereis?
Não fazem o mesmo os publicanos e os pecadores?
Se somente saudardes os vossos irmãos, que fazeis nisto de especial?
Não fazem o mesmo os gentios?
Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai celestial.
Ao abordar o mesmo tema, no capítulo VI, de seu Evangelho, Lucas situa uma expressão complementar de Jesus:
Sede, pois, misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso.
Conciliando os dois textos, diríamos que Jesus situa a misericórdia como sinônimo de perfeição moral.
Ela se exprime na compaixão pelas misérias alheias, a capacidade de nos
compadecermos do próximo, sem distinções ou discriminações, mesmo quando
nos cause prejuízos.
Jesus foi o grande campeão neste particular, dedicando sua existência ao
empenho por socorrer aos sofredores e necessitados de todos os matizes.
Compadeceu-se dos próprios algozes na cruz, pedindo a Deus:
Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas 23-34).
***
É interessante notar que estamos todos tão longe da misericórdia, que
nos surpreendemos quando vemos alguém exercitá-la com desenvoltura.
É como se fosse um ET, um ser de outro mundo.
Ficamos pasmos diante de uma Madre Teresa de Calcutá, pequenina, frágil,
saúde precária… Não obstante, exerceu poderosa e benéfica influência
sobre centenas de seguidores e admiradores.
Como o conseguia?
Simplesmente sendo misericordiosa.
Madre Teresa fez de sua vida um exercício de misericórdia. Viveu para
servir, devotando entranhado amor aos pobres, doentes e sofredores de
todos os matizes.
***
O Mundo assistiu emocionado, há algum tempo, às cerimônias que
envolveram o sepultamento da princesa Diana, que o cantor Elton John
chamou, inspiradamente, Rosa da Inglaterra, vela que se apagou breve,
mas gerou a luz de uma lenda imortal.
Por que toda essa mística em torno dela?
Por que tanta gente chorando?…
Afinal, foi uma jovem comum, que teve seus sonhos, seus anseios, suas decepções e dores, suas fraquezas e limitações…
A resposta está em centenas de representantes de instituições
filantrópicas, que foram convidados a acompanhar o cortejo fúnebre.
Atendem a órfãos, a enfermos, a velhos, a aidéticos, a mutilados de
guerra, que ela visitou, apoiou e beneficiou.
As imagens mais duradouras, que falam mais de perto a todos nós, não são
dos paparazzi, envolvendo sua privacidade, mas aquelas em que ela
aparece abraçando aidéticos, beijando crianças, acariciando anciãos, com
espontaneidade e carinho.
Essas imagens nos dizem que ela foi alguém especial, que exercitou a
misericórdia, caminho perfeito de nossa realização como filhos de Deus.
Por isso será inesquecível, como Madre Teresa de Calcutá.
***
Ouvi, certa feita, um pregador afirmar que somos todos criaturas de Deus.
Somente os que aceitam Jesus, segundo os princípios de sua crença, são filhos de Deus.
Pobre pregador!
Decorou o Evangelho mas não entendeu Jesus.
Todos somos filhos do Altíssimo, herdeiros da Criação.
Para entrarmos na posse de nossa herança e assumirmos nossa posição, falta-nos um único dom:
Que cultivemos a misericórdia!
Então seremos filhos perfeitos de Deus!
Livro Espiritismo, uma Nova Era para a Humanidade
Richard Simonetti
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