"Nunca desconsidere o valor da sua dose de solidão, a fim de aproveitá-la em meditação e reajuste das próprias forças." - ANDRÉ LUIZ
Dias se alternam, semanas, meses e anos passam céleres no calendário da vida... Neste ínterim, dormimos e acordamos tantas vezes e de forma tão mecânica que quase não notamos seu passar. Para falar a verdade, nem reparamos muito nele. Mergulhados no vórtice vital, nos rendemos ao seu poder e produzimos de acordo com o seu ritmo.
No entanto, e em certas épocas, tudo muda. Nossa disposição em enfrentar um novo dia, ou um novo ciclo, diminui consideravelmente. É desta disposição que queremos falar hoje.
Num dado momento, percebemos uma estranha letargia nos convidando a caminhar por nosso próprio relógio, que parece estar mais vagaroso e desatento. Eis então que nos vemos praticamente num mundo à parte, onde, dentro de um fluir peculiar, tudo é mais pensado e sentido.
Nossas necessidades não são medidas somente pelo mundo tangível: algo que ainda não abrangemos determina o ritmo para avanços e recuos dentro da Criação. As estações do ano nos dão uma pálida ideia de como funciona o universo... Se a primavera e o verão são dias de acordar e trabalhar, dias de viver e de plantar, o outono e inverno representam tempo de se recolher e observar, de colher e de guardar...
Se hoje você acordou num estágio assim, querendo atrasar o próprio relógio, sequioso de mergulhar em si para se achar em algum ponto esquecido da memória, porém necessário ao cumprimento de alguma coisa que ainda não consegue entender, não se sinta culpado ou doente.
Viva este momento com calma.
Reduzir o fluxo, fazer tudo no tempo em que a alma se encontra no momento, eis a chave para não entrar em conflitos desnecessários consigo mesmo e evitando pensamentos do tipo: estou doente? Preciso de medicação? Será depressão? quando o que ocorre é apenas o espírito pedindo trégua, um pouco de relaxamento das tensões materiais e desejando simplesmente respirar em paz.
Com base nisso, cumpra tão somente as obrigações mais urgentes e inadiáveis, sem se forçar a criar algo novo ou a iniciar um novo projeto meramente para "voltar a render". Não se cobre e não se obrigue a seguir um ritmo no qual você não está no momento.
Ouça mais sua respiração e seu coração. Deixe que ideias que parecem vir de um tempo a parte se materializem na mente, e depois reflita sobre elas.
Permita-se descansar.
Antes de você, os problemas já existiam. Depois de você, os problemas prosseguirão, testando novas vidas.
Pense nisso.
Parar por um tempo não é estagnar, é respeitar suas particularidades. Acordar "outono" é significativo... Hora de separar os frutos maduros do tronco, de deixar as folhas se desprenderam dos galhos, hora de se despir, de perder cascas para se renovar mais à frente... Hora de recolhimento, de introspeção, de sentir o pulsar do mundo em si, num escoar único e diferente, mas do qual sabemos fazer parte... Nada às pressas, mas pelo fluir da Natureza que, agindo de igual modo em tudo e em todos, pede um tempo especial para o preparo da nova floração.
Aproveite este momento sem culpas. Aproveite seu outono ou seu inverno da forma como o coração pede. Se ele está pedindo para parar, pare.
E não se preocupe: mais à frente, como parte da Natureza, você florirá outra vez porque a primavera fatalmente virá, acordando-o em plenitude... Assim como a Natureza, a alma também descansa para depois voltar a florir infinitamente mais bela.
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