- Por Robert Allan Monroe -
Três vezes “fui” a lugares que não me deixam encontrar palavras para descrevê-los minuciosamente. De novo, é essa visão, essa interpretação, a visitação temporária a esse “lugar” ou estado de ser que encerra a mensagem ouvida tão frequentemente no decorrer da história do homem.
Estou seguro de que isso pode ser parte do supremo céu, como nossas religiões o classificam. Deve também ser o Nirvana, o Samadhi, a experiência suprema relatada para nós pelos místicos dos tempos.
Para mim era um lugar ou estado de pura paz, porém de emoção apurada. Era como se flutuasse em nuvens quentes e macias, onde não existe acima nem abaixo, onde nada existe como pedaço separado de matéria.
O calor não paira meramente ao seu redor, vem de você e passa por dentro de você. Sua percepção fica ofuscada e assoberbada pelo Meio-Ambiente Perfeito.
A nuvem na qual você flutua é varrida por feixes de luz em formatos e matizes que variam constantemente, e cada um traz benefícios quando você se banha neles no instante em que lhe passam por cima.
Raios de luz vermelho-rubi, ou alguma coisa além que chamamos de luz, já que nenhuma luz jamais se fez sentir tão expressivamente. Todas as cores do espectro vão e vêm constantemente, nunca de maneira desarmoniosa, e cada uma traz um calmante diferente, ou felicidade pacificadora.
É como se você estivesse e fizesse parte das nuvens cercando um ocaso eternamente brilhante e, com todos os padrões transformadores de cores vivas, você também mudasse.
Você reage e absorve a eternidade dos azuis, amarelos, verdes e vermelhos, e a complexidade das cores intermediárias. Todas lhe são familiares. Você pertence àquele local. Ele é sua Casa.
À medida que se desloca lentamente e sem estorço pela nuvem; você ouve música à sua volta. Não é coisa que veja. Permanece por ali o tempo todo, e você vibra em harmonia com a música.
É muito mais do que a música convencional de origem conhecida. São apenas aquelas harmonias, as delicadas e ativas passagens melódicas, os contrapontos em multivozes, os harmônicos pungentes.
São apenas esses que lhe conseguem evocar as emoções profundas, incoerentes do mundo convencional. O terreno está faltando. Coros de vozes parecendo humanas ecoam canções sem palavras.
Infinitos padrões de cordas, em todas as nuançes de sutil harmonia, entrelaçam-se em temas cíclicos, porém evolutivos, e você ressoa com eles.
Não existe origem para essa Música. Ela está aqui, em torno de você, você faz parte dela, e ela é você.
E a pureza de uma verdade da qual teve apenas pequena amostra. Isto é o festim, e os minúsculos petiscos provados por você antes, no mundo convencional, fizeram-no ansiar pela existência do Todo.
Os indescritíveis estados de emoção, ânsia, nostalgia, senso de destino que sentia no mundo convencional, quando fitava o ocaso do Havaí, com as nuvens em camadas; quando permanecia em silêncio no meio das árvores altas, ondulantes na floresta calma; quando uma seleção ou passagem musical, ou toda uma canção, trazia recordações; do passado, ou provocava um anseio sem imagem associada ao passado, quando sonhava com o lugar ao qual pertencia, fosse município, cidade, país ou família, agora isso está preenchido.
Você está em Casa. Está no lugar a que pertence. Onde sempre deveria ter estado.
E o mais importante: não está sozinho! Ligados a você estão os outros. Não possuem nomes, nem você os conhece pelos formatos, mas os conhece, e está unido a eles por um grande e simples reconhecimento consciente.
São exatamente como você; são você, iguais a você; estão em Casa. Você sente com eles, como suaves ondas de eletricidade passando por entre vocês, uma integração de amor, do qual todas as facetas por que você já passou são meros segmentos e porções incompletos.
Somente aqui as emoções existem sem necessidade de exibição ou demonstração intensa. Você dá e recebe em ação automática, sem esforço deliberado. Não é uma coisa que você precise, ou que precise de você.
O gesto de “querer alcançar” desapareceu. O intercâmbio flui naturalmente. Você desconhece diferenças de sexo; como parte do todo, você é tanto macho quanto fêmea, é positivo e negativo, elétron e próton.
O amor homem-mulher vem para você e sai de você; pai-filho-irmão-ídolo e idílio e ideal, tudo isso se afeta reciprocamente em suaves ondas à sua volta, dentro e através de você, que fica em equilíbrio perfeito porque está no lugar ao qual pertence. Está em Casa.
Inserido em tudo isso, contudo sem dele fazer parte, você vem a conhecer a fonte de toda a extensão de sua experiência, de você mesmo, da vastidão além da sua capacidade de assimilar e/ou imaginar.
Aqui você descobre e facilmente aceita a existência do Pai. Seu Pai de verdade. O Pai, o Criador de tudo que existe e existiu. Você é uma de Suas incontáveis obras.
Como ou por que não se sabe. Não é importante. Você vive feliz simplesmente porque está no seu devido lugar; aquele a que realmente pertence.
* * *
Cada uma das três vezes em que estive Lá não regressei voluntariamente. Voltei triste, relutante. Alguém me ajudou a regressar. Cada vez, após meu retorno, sofri intensa nostalgia e solidão, durante muitos dias.
Senti-me como um forasteiro deve sentir-se no meio de desconhecidos, numa terra onde as coisas não são “certas”; onde tudo e todos são tão diferentes e “errados”, quando comparados com coisas no local de onde ele veio.
Solidão aguda, nostalgia, e certa coisa análoga à saudade. Tão grande era que não tentei voltar Lá novamente. Seria o céu?
Certa vez tentei simular Lá neste mundo. Recordei-me quando criança, nadando numa piscina que tinha aquelas luzes coloridas embutidas nas paredes subaquáticas. Lembrei-me especificamente da piscina que possuía tais luzes.
Nossa casa de campo tinha uma piscina, daí comecei a entrar em ação. Havíamos instalado iluminação submarina, e eu usei cores nas lâmpadas. Tentei arduamente, porém não consegui reproduzir os matizes profundos de que me lembrava. Foi preciso muita energia.
Além disso instalamos uma saída de som subaquática para podermos deitar sobre a água com os ouvidos submersos e escutar música vinda do sistema colocado dentro da casa. Isso funcionou muito bem. Mas não se igualou ao Lá, nem ficou parecido.
Havia um item em especial: visitando o local onde passara minha infância, a piscina da qual me lembrara continuava lá, contudo não tinha iluminação submarina colorida. Ninguém, incluindo velhos, amigos que haviam nadado junto comigo, conseguiu recordar-se da piscina com luzes coloridas debaixo d'água.
Realidade, Realidade!
(Texto extraído do livro “Viagens Fora do Corpo” – Editora Record.)
- Nota:
Robert Allan Monroe (1915-1995) - foi um norte-americano empresário, engenheiro de som, jornalista, parapsicólogo, projetor consciente e autor de “Viagens Fora do Corpo” (título original: “Journeys Out of the Body”), obra que popularizou a expressão “experiências fora do corpo”.
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